AS OPORTUNIDADES PERDIDAS

17 07 2009

Cão: Já não te via há muito tempo!  
Pincha:
Estive em viagem durante a qual me cansei bastante e depois estive uns dias a «restabelecer».

Cão: Isto quer dizer que, embora as novas eleições se aproximem, não andaste a fazer a procura necessária nos caixotes de lixo ou de reciclagem.  
Pincha:
Tens razão. Até o nosso comentador do psicologiaparaque.blogspot.com já tomou nota da nossa ausência e fez reparos. A situação torna-se desagradável para mim. Porém, sinto-me cansado com toda esta «cegada» que anda no ar com os banqueiros, políticos, governantes, altos dirigentes e figuras aparentemente gradas da nossa sociedade.

Cão: Tens razão. Para isto não valia a pena ter «acontecido» o 25 de Abril. 
Pincha:
Bastava apenas eliminar a PIDE e a CENSURA, duas chagas duma sociedade que não foi «decente» e que necessitou de «defesas» deste tipo para se aguentar no poder. No resto, parece que está tudo pior.

Cão: Sim. Desenvolvimento nenhum. Roubalheira exagerada. Impunidade descarada. Corrupção em alta escala. Favoritismo desenfreado. Que mais nos faltará?   
Pincha:
Como deves compreender, estou desiludido. Mas sabes que estive com uma pessoa amiga que não via há muito tempo?

Cão: O que é que isso tem de novo?  
Pincha:
Ele esteve há dias na ilha de Boavista, em Cabo Verde. Quando estive na tropa, ele estava comigo na Guiné e ambos conversávamos muito com os tripulantes da Força Aérea que fazia lá missões de vigia e patrulhamento, ficando sediada na ilha do Sal. Um dia, quase no fim da sua comissão de serviço, não tendo dinheiro para vir de férias à Metrópole nem necessitando desses dias de licença porque iria passar à disponibilidade, esse amigo tentou saber se poderia visitar outras ilhas do arquipélago. Conversando com os comandantes do avião e do seu destacamento de Manutenção do Exército, ficou a saber que poderia ausentar-se por 15 dias desde que mantivesse o serviço em dia e pronto para qualquer eventualidade. Pelo comandante do avião ficou a saber que, sendo militar no activo, poderia viajar no avião desde que tivesse autorização do Comando da Força Aérea, da Zona, o qual não foi difícil de obter. Sabendo que o avião se deslocava sistematicamente pelo menos de 15 em 15 dias entre Sal e Bissau, combinou ir passar as férias ao Sal, tanto mais que havia lá um «hotel» pré-fabricado em madeira que até servia os passageiros dos eventuais voos comerciais. A satisfação deste meu amigo foi grande quando soube que o avião tinha recebido ordem para nessa madrugada ir verificar as posições de eventuais barcos que estariam a pescar nas águas de Cabo-Verde, muito próximo de Boavista. O avião encurtaria em dois dias a missão na Guiné, aterrando no Sal no fim do patrulhamento. Muito excitado e contente por poder participar numa missão, quis encarregar-se de ajudar o técnico de observação e vigia na parte inferior do avião donde se avistava o chão em toda a amplitude. Do barco de pesca, provavelmente russo, que iríamos observar, nem sombras! Contudo, a vista magnífica da ilha de Boavista, com praias imensas e boa pesca de marisco levou-o a fazer um comentário bastante acrimonioso em relação ao desperdício que se fazia das belezas naturais que existiam à «mão de semear».  

Cão: Ele falou nisso com o comandante do avião? 
Pincha:
Já sei o que queres dizer. Nós conhecíamos bem o comandante do avião e tínhamos muita confiança nele e com ele. Éramos todos contra a «situação podre» que se estava a viver. Fazíamos a «guerra» em territórios óptimos sem autonomia, fomentando o ódio entre as populações para se poder «dividir para reinar», sem contacto com o «mundo», a desperdiçar as belezas naturais e todas as oportunidades de mudança que se nos ofereciam para termos um progresso real, num conjunto total muito diversificado e espalhado pelo mundo. Isto seria o Portugal ideal ou uma Lusolândia, incluindo, provavelmente o Brasil. Assim, o chavão agora utilizado “Todos iguais, todos diferentes” teria toda a sua significação.    

Cão: E ele largou algumas «bocas»?
Pincha:
Quando regressou à Guiné ele disse-me: “Que grandes bestas! Com tanto desperdício, não sei onde vamos parar. Já estamos na cauda da Europa. Vamos ficar ainda mais distantes”.

Cão: E o que é que achas agora?   
Pincha:
Parece que esta «profecia» se está a realizar. Não estamos melhores nem arranjamos «políticos» e «governantes» à altura. E era tão simples ficarmos muito melhor com a nossa entrada na Comunidade Europeia! Bastava apenas gerir os dinheiros com alguma honestidade e sem sombra de suspeitas em relação aos muitos Políticos e Governantes, além de diversos outros Comandantes, Gerentes, Autarcas, etc. que passam despercebidos ou que ainda não se evidenciaram.

Cão: Estás mesmo desiludido. 
Pincha:
Muito. Se Salazar, que ficou com tudo na mão, tivesse dado a todas as «colónias», logo no fim da II Guerra Mundial, apenas a autonomia que se processa agora na Madeira, muitos dos males teriam sido evitados ou resolvidos, aprendendo cada parcela a viver autónoma e democraticamente. E se a instrução tivesse sido implementada em vez da censura e da polícia política que seriam desaconselhadas por Quirino de Jesus, muito se poderia avançar mesmo que as riquezas naturais não fossem devidamente aproveitadas como ainda não o são. E não se despenderia mais do que com os «cancros» da Censura e a PIDE que poderiam ser imediatamente eliminadas. E o que fez Marcelo que se julgava mais esperto que Salazar, apesar de ter netos que lhe apontaram um caminho diferente daquele que teimosamente obrigou os portugueses a percorrer? Se aqueles dois fizeram asneiras, agora, as mesmas abundam, muitas vezes em proveito dos próprios e em nome da democracia que ainda não está implantada e, muito menos, consolidada.

Cão: A não ser que seja a democracia orgânica ou constitucional. 
Pincha:
O que eu desejo é democracia real. Tudo o resto são encenações para enganar os incautos.


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10 responses

23 07 2009
Anónimo

Querias democracia real? A fictícia não chega? A de Salazar ou de Marcelo era melhor? Quem tudo quer tudo perde!

26 07 2009
Observador Social

Será que alguma vez teremos uma democracia em que haja menos ricos do que agora, a par com os desprezados, maltratados e insatisfeitos, embora menos do que há 50 anos?

12 08 2009
Anónimo

Definitivamente, Salazar perdeu a oportunidade de colocar quase na vanguarda do progresso, mesmo à frente da Espanha.
E se as colónias fossem, de facto, parte integrante de Portugal, sem serem as criadinhas de servir, seríamos respeitados em quase todo o mundo.
Agora, é tarde demais.

20 08 2009
Anónimo

Oxalá que não estejamos a perder mais oportunidades, agora que dizem que existe democracia e se acabou a ditadura.
Os lobbies, as panelinhas, os tachos, as irresponsabilidades, a falta de uma justiça séria com leis adequadas deixa muito a desejar.
Se os partidos se preocupassem mais com um pleneamento e uma governação sérias em vez de se digladiarem e dizerem mal uns dos outros, talvez isto fosse menos difícil de aturar.
Senão, não me admiro que qualquer dia a nossa mente se vire para um outro Salazar.

29 08 2009
Anónimo

Em vez de serem eles a aprender a ser domocratas, é mais importante que nós tomemos parte com voz activa e acções decisivas. Uma delas pode ser a de riscar, na totalidade, o boletim de voto, se não houver outra alternativa. É como se lhes dissesemos: «aldrabões».

29 08 2009
compincha

Ted Kennedy não foi diferente destes? Oxalá que Barack Obama também consiga ser.

8 09 2009
Anónimo

Oxalá que não percam agora a oportunidade de estabelecer taxas que não deixem «engordar» ainda mais os que já estão obesos. A obesidade faz mal.
Bem podiam seguir o exemplo de Barack Obama, não o de ir gozar férias na Martha´s Vineyard, mas sim o de propor taxas de 90%, como disse Louçã hoje no seu confronto com o «engenheiro» Sócrates.
Os «democratas» da «Verdade» absoluta é que podem não gostar.
Vamos deixá-los chegar a sítios onde não devem? Atenção às eleições.
Lembrem-se dos exemplos que eles já deram. A juventude é que sabe…

14 09 2009
Anónimo

Agora também, estes candidatos estão a perder a oportunidade de ficarem calados para não dizerem disparates e empurrarem os votantes para outros partidos.
Radicalismos, maledicência, esquecimentos técnicos e menriras disfarçadas com propostas não ajudam coisa alguma.
Era melhor que pensassem mais no país e menos nos seus bolsos e privilégios.
Por isso, existe muita gente baralhada que pensa em não ir votar e isso é mau para a democracia.

18 09 2009
Gato cheiroso

Agora, não vamos perder mais oportunidades!
O isolacionosmo do «orgulhosamente sós» já chega. Deu no que deu.
Algumas notas debaixo do colchão e uma lata com preciosidades que não se comem nam são eternas.
Já chega a fome que estamos a passar.

17 01 2010
Mário de Noronha

Agora, parece que Portugal está a perder uma boa oportunidade de governar em colaboração.
Se os partidos fossem «maiores e vacinados» estariam a dialogar em vez de estarem a arranhar os outros.
Estou a perder a esperança nos políticos e governantes deste País.
Parecem todos umas criancinhas birrentas, malcriadas e invejosas a divertirem-se num pátio que não tem orientação nem vigilância.
Se os moradores da zona se fartarem da desordem e exigirem um vigilante, sabem o que pode acontecer?
Será a maldição de Salazar?
É assim que elas começam. E duram.
Candidatos não faltam!

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