Cão: Já não te via há muito tempo!
Pincha: Estive em viagem durante a qual me cansei bastante e depois estive uns dias a «restabelecer».
Cão: Isto quer dizer que, embora as novas eleições se aproximem, não andaste a fazer a procura necessária nos caixotes de lixo ou de reciclagem.
Pincha: Tens razão. Até o nosso comentador do psicologiaparaque.blogspot.com já tomou nota da nossa ausência e fez reparos. A situação torna-se desagradável para mim. Porém, sinto-me cansado com toda esta «cegada» que anda no ar com os banqueiros, políticos, governantes, altos dirigentes e figuras aparentemente gradas da nossa sociedade.
Cão: Tens razão. Para isto não valia a pena ter «acontecido» o 25 de Abril.
Pincha: Bastava apenas eliminar a PIDE e a CENSURA, duas chagas duma sociedade que não foi «decente» e que necessitou de «defesas» deste tipo para se aguentar no poder. No resto, parece que está tudo pior.
Cão: Sim. Desenvolvimento nenhum. Roubalheira exagerada. Impunidade descarada. Corrupção em alta escala. Favoritismo desenfreado. Que mais nos faltará?
Pincha: Como deves compreender, estou desiludido. Mas sabes que estive com uma pessoa amiga que não via há muito tempo?
Cão: O que é que isso tem de novo?
Pincha: Ele esteve há dias na ilha de Boavista, em Cabo Verde. Quando estive na tropa, ele estava comigo na Guiné e ambos conversávamos muito com os tripulantes da Força Aérea que fazia lá missões de vigia e patrulhamento, ficando sediada na ilha do Sal. Um dia, quase no fim da sua comissão de serviço, não tendo dinheiro para vir de férias à Metrópole nem necessitando desses dias de licença porque iria passar à disponibilidade, esse amigo tentou saber se poderia visitar outras ilhas do arquipélago. Conversando com os comandantes do avião e do seu destacamento de Manutenção do Exército, ficou a saber que poderia ausentar-se por 15 dias desde que mantivesse o serviço em dia e pronto para qualquer eventualidade. Pelo comandante do avião ficou a saber que, sendo militar no activo, poderia viajar no avião desde que tivesse autorização do Comando da Força Aérea, da Zona, o qual não foi difícil de obter. Sabendo que o avião se deslocava sistematicamente pelo menos de 15 em 15 dias entre Sal e Bissau, combinou ir passar as férias ao Sal, tanto mais que havia lá um «hotel» pré-fabricado em madeira que até servia os passageiros dos eventuais voos comerciais. A satisfação deste meu amigo foi grande quando soube que o avião tinha recebido ordem para nessa madrugada ir verificar as posições de eventuais barcos que estariam a pescar nas águas de Cabo-Verde, muito próximo de Boavista. O avião encurtaria em dois dias a missão na Guiné, aterrando no Sal no fim do patrulhamento. Muito excitado e contente por poder participar numa missão, quis encarregar-se de ajudar o técnico de observação e vigia na parte inferior do avião donde se avistava o chão em toda a amplitude. Do barco de pesca, provavelmente russo, que iríamos observar, nem sombras! Contudo, a vista magnífica da ilha de Boavista, com praias imensas e boa pesca de marisco levou-o a fazer um comentário bastante acrimonioso em relação ao desperdício que se fazia das belezas naturais que existiam à «mão de semear».
Cão: Ele falou nisso com o comandante do avião?
Pincha: Já sei o que queres dizer. Nós conhecíamos bem o comandante do avião e tínhamos muita confiança nele e com ele. Éramos todos contra a «situação podre» que se estava a viver. Fazíamos a «guerra» em territórios óptimos sem autonomia, fomentando o ódio entre as populações para se poder «dividir para reinar», sem contacto com o «mundo», a desperdiçar as belezas naturais e todas as oportunidades de mudança que se nos ofereciam para termos um progresso real, num conjunto total muito diversificado e espalhado pelo mundo. Isto seria o Portugal ideal ou uma Lusolândia, incluindo, provavelmente o Brasil. Assim, o chavão agora utilizado “Todos iguais, todos diferentes” teria toda a sua significação.
Cão: E ele largou algumas «bocas»?
Pincha: Quando regressou à Guiné ele disse-me: “Que grandes bestas! Com tanto desperdício, não sei onde vamos parar. Já estamos na cauda da Europa. Vamos ficar ainda mais distantes”.
Cão: E o que é que achas agora?
Pincha: Parece que esta «profecia» se está a realizar. Não estamos melhores nem arranjamos «políticos» e «governantes» à altura. E era tão simples ficarmos muito melhor com a nossa entrada na Comunidade Europeia! Bastava apenas gerir os dinheiros com alguma honestidade e sem sombra de suspeitas em relação aos muitos Políticos e Governantes, além de diversos outros Comandantes, Gerentes, Autarcas, etc. que passam despercebidos ou que ainda não se evidenciaram.
Cão: Estás mesmo desiludido.
Pincha: Muito. Se Salazar, que ficou com tudo na mão, tivesse dado a todas as «colónias», logo no fim da II Guerra Mundial, apenas a autonomia que se processa agora na Madeira, muitos dos males teriam sido evitados ou resolvidos, aprendendo cada parcela a viver autónoma e democraticamente. E se a instrução tivesse sido implementada em vez da censura e da polícia política que seriam desaconselhadas por Quirino de Jesus, muito se poderia avançar mesmo que as riquezas naturais não fossem devidamente aproveitadas como ainda não o são. E não se despenderia mais do que com os «cancros» da Censura e a PIDE que poderiam ser imediatamente eliminadas. E o que fez Marcelo que se julgava mais esperto que Salazar, apesar de ter netos que lhe apontaram um caminho diferente daquele que teimosamente obrigou os portugueses a percorrer? Se aqueles dois fizeram asneiras, agora, as mesmas abundam, muitas vezes em proveito dos próprios e em nome da democracia que ainda não está implantada e, muito menos, consolidada.
Cão: A não ser que seja a democracia orgânica ou constitucional.
Pincha: O que eu desejo é democracia real. Tudo o resto são encenações para enganar os incautos.
Querias democracia real? A fictícia não chega? A de Salazar ou de Marcelo era melhor? Quem tudo quer tudo perde!
Será que alguma vez teremos uma democracia em que haja menos ricos do que agora, a par com os desprezados, maltratados e insatisfeitos, embora menos do que há 50 anos?
Definitivamente, Salazar perdeu a oportunidade de colocar quase na vanguarda do progresso, mesmo à frente da Espanha.
E se as colónias fossem, de facto, parte integrante de Portugal, sem serem as criadinhas de servir, seríamos respeitados em quase todo o mundo.
Agora, é tarde demais.
Oxalá que não estejamos a perder mais oportunidades, agora que dizem que existe democracia e se acabou a ditadura.
Os lobbies, as panelinhas, os tachos, as irresponsabilidades, a falta de uma justiça séria com leis adequadas deixa muito a desejar.
Se os partidos se preocupassem mais com um pleneamento e uma governação sérias em vez de se digladiarem e dizerem mal uns dos outros, talvez isto fosse menos difícil de aturar.
Senão, não me admiro que qualquer dia a nossa mente se vire para um outro Salazar.
Em vez de serem eles a aprender a ser domocratas, é mais importante que nós tomemos parte com voz activa e acções decisivas. Uma delas pode ser a de riscar, na totalidade, o boletim de voto, se não houver outra alternativa. É como se lhes dissesemos: «aldrabões».
Ted Kennedy não foi diferente destes? Oxalá que Barack Obama também consiga ser.
Oxalá que não percam agora a oportunidade de estabelecer taxas que não deixem «engordar» ainda mais os que já estão obesos. A obesidade faz mal.
Bem podiam seguir o exemplo de Barack Obama, não o de ir gozar férias na Martha´s Vineyard, mas sim o de propor taxas de 90%, como disse Louçã hoje no seu confronto com o «engenheiro» Sócrates.
Os «democratas» da «Verdade» absoluta é que podem não gostar.
Vamos deixá-los chegar a sítios onde não devem? Atenção às eleições.
Lembrem-se dos exemplos que eles já deram. A juventude é que sabe…
Agora também, estes candidatos estão a perder a oportunidade de ficarem calados para não dizerem disparates e empurrarem os votantes para outros partidos.
Radicalismos, maledicência, esquecimentos técnicos e menriras disfarçadas com propostas não ajudam coisa alguma.
Era melhor que pensassem mais no país e menos nos seus bolsos e privilégios.
Por isso, existe muita gente baralhada que pensa em não ir votar e isso é mau para a democracia.
Agora, não vamos perder mais oportunidades!
O isolacionosmo do «orgulhosamente sós» já chega. Deu no que deu.
Algumas notas debaixo do colchão e uma lata com preciosidades que não se comem nam são eternas.
Já chega a fome que estamos a passar.
Agora, parece que Portugal está a perder uma boa oportunidade de governar em colaboração.
Se os partidos fossem «maiores e vacinados» estariam a dialogar em vez de estarem a arranhar os outros.
Estou a perder a esperança nos políticos e governantes deste País.
Parecem todos umas criancinhas birrentas, malcriadas e invejosas a divertirem-se num pátio que não tem orientação nem vigilância.
Se os moradores da zona se fartarem da desordem e exigirem um vigilante, sabem o que pode acontecer?
Será a maldição de Salazar?
É assim que elas começam. E duram.
Candidatos não faltam!